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Ansiedade pandémica em contexto escolar: origens e estratégias para combater um inimigo comum

A pandemia levou ao agravamento da ansiedade em contexto escolar. Partindo das consequências deste fenómeno, surgem, a pouco e pouco, soluções, numa luta pelo bem-estar de todos.

Ao contemplar um pós-pandemia que parece nunca chegar, a ansiedade converte-se num dos efeitos mais notórios do chamado “novo normal”. Ainda para mais, face ao regresso às aulas.

Um espaço que costumava ser sinónimo de segurança - a escola - passa a constituir um risco, podendo impactar a saúde dos mais novos. Para explicar o fenómeno, Maria João Silva, coordenadora das consultas da ansiedade do PIN – em todas as fases da vida (centro clínico de formação e investigação) assinala um medo que “foi fazendo parte da nossa realidade”.

“Se para a maioria dos jovens a exposição gradual ao medo possibilita a sua cessação, para outros com fragilidade de base, há um maior risco de desenvolver perturbações de ansiedade”, afirma a psicóloga clínica e psicoterapeuta.

 

Voltar às origens

Adaptações bruscas têm, por norma, a capacidade de propiciar padrões de ansiedade. A emergência sanitária veio agravar este fator, fomentando um estado de instabilidade constante. Embora a escola devesse ser a rede de segurança dos mais novos, acabou por aumentar preocupações.

“Situações em que a criança ou o jovem fica em isolamento podem levar a uma maior preocupação pelos conteúdos perdidos, pela dificuldade em voltar a integrar-se nos grupos ou pelo medo do estigma associado a ter estado”, acrescenta Maria João Silva.

Confinar e desconfinar implicou quebras na rotina das crianças. Segundo a psicóloga de crianças e adolescentes e coach parental, Bárbara Ramos Dias, o problema começou logo nas suas origens. Durante o início da pandemia, houve uma “falta de compreensão” por parte dos docentes, que acabaram por alargar o volume de aulas e trabalhos.

“Há quem tenha desenvolvido ansiedade, outros depressão, doenças psicossomáticas, alterações de sono e alimentação e até as automutilações aumentaram muito, e em crianças cada vez mais novas”, afirma Bárbara Ramos Dias.

Com a dificuldade em gerir novas realidades digitais, a pressão de estar à frente das câmaras também se intensificou. Surgiram novos tipos de ansiedade social, ligadas a falar em público, à falta de meios tecnológicos ou em deixar transparecer contextos familiares que podem não ser os melhores.

É uma sensação de “parece que estão todos a olhar para mim… não vou estar a ligar o microfone para responder ou até pode estar errado… podem estar a gravar”, refere Maria João Silva. Apesar de algumas vantagens, a escola em casa acabou por combinar o pior destes dois mundos.

 

Um mesmo problema, várias consequências

Depois de quase dois anos a viver num clima de incerteza, as consequências começam a transparecer, em particular no sucesso escolar das crianças. A oscilação entre o à distância e o presencial acabou por agravar disparidades já existentes, prejudicando os bons resultados de certos grupos de alunos.

Sónia Gaudêncio, psicóloga da clínica Estima+, aponta não só para o esquecimento de alunos com menos recursos, mas também de crianças com necessidades especiais. “Existem realidades muito distintas, e embora vários alunos conseguissem acompanhar bem as aulas online e fossem autónomos o suficiente para gerir as suas tarefas, outros não foram capazes de o fazer”, afirma.

Na hora de comprovar conhecimentos, a ansiedade acentuou-se, perante um período letivo que “nem sempre permitiu que os conhecimentos fossem bem consolidados”. A comunidade escolar acabou por sofrer, existindo a necessidade de compensar, a curto e longo-prazo, os anos letivos atípicos.

Outras repercussões manifestam-se na função social da escola. Interações limitadas fizeram com que os jovens se sentissem mais isolados, acabando por se refugiar no digital. Perdem-se brincadeiras e, no caso dos mais velhos, rituais de passagem, importantes na consolidação de certas competências sociais.

Maria João Silva destaca ainda o problema do bullying, um fenómeno que anda, muitas vezes, de mãos dadas com a ansiedade. Não só há maior aflição pela possibilidade de voltar a rever agressores, como “também a ansiedade pode ser um gatilho para este tipo de fenómenos”.

“A falta de conhecimento acerca da ansiedade pode levar ao julgamento, à dificuldade de empatizar com o sofrimento do colega. Pode eventualmente agravar o bullying ou até mesmo o fenómeno do ciberbullying. Não podemos esquecer a discriminação no mundo virtual”, refere.

 

Falar em soluções

Após reconhecer os problemas, parte de fazer mais e melhor pelos miúdos à nossa volta passa por encontrar soluções. O esforço entre escola e pais deve ser mútuo, focando-se, acima de tudo, em delegar informação clara e concisa.

“É muito importante que os adultos se certifiquem de que as crianças conseguem compreender o que lhes foi explicado, não deixando margem para lugares cinzentos”, afirma Maria João Silva.

Aos professores, é pedido que façam o que fazem melhor: ensinar e compreender. Debates sobre como lidar com o pânico ou identificar sinais de alarme conseguem prevenir problemas, ao mesmo tempo que viabilizam diagnósticos.

Além disso, “a utilização de dinâmicas que promovam momentos de socialização em sala de aula” pode ser uma grande ajuda. Proporciona-se “uma sensação de segurança e de pertença que aumentará o conforto que se sente na escola”.

Já em casa, existe a vantagem de o trabalho ser mais adaptável às necessidades de cada um. A empatia e paciência convertem-se em palavras de ordem. Na opinião de Sónia Gaudêncio, estratégias como “exercícios de relaxamento, o envolvimento em atividades que trazem bem-estar ou em que [as crianças] se sintam bem participar” são importantes “escapes” na hora de combater a ansiedade.

Pais e professores devem, assim, manter uma relação de complementaridade, sem esquecer o seu próprio bem-estar físico e mental. “Lembrem-se que só quando estamos bem, conseguimos ajudar as nossas crianças a estar melhor”, conclui Bárbara Ramos Dias.

À semelhança da vacinação, combater a ansiedade pandémica é um esforço que cabe a todos.

 

Por: Estrelas&Ouriços

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